"Não quero rezar para me proteger dos perigos, mas para ser destemido ao encará-los. Não quero implorar para que me retirem a dor, mas para que tenha um coração que a possa conquistar."
Rabindranath Tagore
Hoje é domingo de carnaval e ainda estamos todos sobre o reinado de Momo. Todos. Inclusive aqueles que como eu, insistem em não se render. Nas ruas, nos blocos, nos desfiles, ou em casa, em retiros espirituais, afastados da folia, o fato é que nossas rotinas foram alteradas. Não gosto disso, não quero isso, quero minha vida dos outros 361 dias do ano.
E aí o que fazer? Procurei meditar um pouco e lembrei-me do que digo, com frequência, aos meus pacientes ansiosos, que me perguntam sobre prazos, tempo de tratamento, quando o medicamento fará efeito, etc, etc, etc....e costumo então responder que "a aula de milagre eu faltei." Faltei mesmo. Mas então o que fazer com a urgente necessidade de ser feliz...ou de, ao menos, estar calmo?
Quero pensar nesse momento no que seria a vida. Seria um agradável domingo no parque ou uma escola de guerra espartana? Nada disso? Um pouco dos dois? Um lugar de aprendizado onde nem tudo são flores, mas um dia a gente descobre o prazer de crescer, ou uma angústia sem sentido onde nunca acharemos nada a não ser sofrimento? Em sua obra "O Mal-Estar na Civilização", Freud coloca que:
"É impossível fugir à impressão de que as pessoas comumente empregam falsos padrões de avaliação,isto é, de que buscam poder, sucesso e riqueza para elas mesmas e os admiram nos outros, subestimando tudo aquilo que verdadeiramente tem valor na vida."
Ser calmo ou feliz olhando a vida através da ótica da minha vontade é sucídio emocional (e se bobear é também físico). Olhar o mundo como se ele tivesse a obrigação natalina atender toda a minha lista de revindicações é perda de tempo, como é perda de tempo dizer que as coisas ou pessoas "me irritam"; na verdade, eu é que estou dando poder ao outro para me irritar.
Posso aplicar aos meus momentos ruins e a angústia da espera a técnica do "ponto de ônibus". Basta aguardar, que em algum momento, ainda que demore, eu certamente sairei daquele lugar onde estou. Essa espera sem sofrimento está contida no Segundo Passo, inicialmente porque ali é onde "viemos a acreditar". Surge uma fé que dissolve o medo, olho para o lado e vejo que "tem mais gente esperando o ônibus". Converso, divido, partilho, e o mundo, estranhamente, apesar de continuar não se apresentando como um lugar ideal, fica muito mais fácil de digerir.
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