sábado, 18 de fevereiro de 2012

O papel do Psiquiatra no tratamento da Dependência Quimica.


"As drogas, mesmo o crack, são produtos químicos sem alma: não falam, não pensam e não simbolizam. Isto é coisa de humanos. Drogas, isto não me interessa. Meu interesse é pelos humanos e suas vicissitudes."
Antonio Nery Filho


É fato.  Olhar o paciente usuário de drogas como somente um dependente químico é um reducionismo perigoso.  A relação do indivíduo com as drogas desgasta sua personalidade ou sequer permite a construção de uma, levando a uma conclusão perigosa, mas infelizmente comum, que a questão está somente na droga. Se prestarmos atenção aos 13 principios para tratamento eficaz recomendados pelo NIDA ( National Institute on Drug Abuse), poderemos tecer algumas considerações. Vejamos:

PRINCÍPIO 1- Um único tratamento não é apropriado para todos os indivíduos.

PRINCÍPIO 2 - O tratamento precisa estar prontamente disponível.

PRINCÍPIO 3 - Um tratamento eficaz é aquele que atende às diversas necessidades dos indivíduos e não apenas ao uso de drogas.

PRINCÍPIO 4 - O tratamento de um indivíduo e o plano de serviços devem ser continuamente avaliados e modificados quando necessário para garantir que o plano atenda às necessidades mutantes da pessoa.

PRINCÍPIO 5 - A permanência no tratamento por um período adequado de tempo é essencial para sua eficácia.

PRINCÍPIO 6 - Aconselhamento (individual e / ou em grupo) e outras terapias comportamentais são componentes cruciais para um tratamento eficaz.

PRINCÍPIO 7 - Medicações são um elemento importante no tratamento de vários pacientes, especialmente quando combinadas com aconselhamento e outras terapias comportamentais.

PRINCÍPIO 8 - Indivíduos com distúrbios mentais que sejam dependentes das drogas devem ser tratados de maneira integrada de ambos os problemas.

PRINCÍPIO 9 - Desintoxicação médica é apenas o primeiro estágio do tratamento e por si mesma contribui pouco para mudança a longo prazo de uso de droga.

PRINCÍPIO 10 - O tratamento não precisa ser voluntário para ser eficaz.
PRINCÍPIO 11 - O possível uso de droga durante o tratamento deve ser monitorado continuamente.

PRINCÍPIO 12 - Programas de Tratamento devem proporcionar avaliação para AIDS/ HIV, Hepatite B e C, Tuberculose e outras doenças infecciosas e Aconselhamento para ajudar pacientes a modificarem comportamentos de risco de infecção.
PRINCÍPIO 13 - A recuperação da Dependência Química pode ser um processo a longo prazo e freqüentemente requer vários episódios de tratamento.

Fontes: NIDA – National Institute on Drug Abuse

Especialmente para familiares de pacientes internados, esses princípios devem ser tornados conhecidos e discutidos com muita atenção.  A necessidade de um olhar multidisciplinar, de ter tempo hábil para perceber um duplo diagnóstico e a partir daí tratar a outra doença além da DQ, a compreensão de que a doeça prevê recaídas e que isso não necessariamente significa um fracasso no tratamento, mas uma etapa da doença.  Afastar o preconceito do individuo contra si mesmo, e da familia e da sociedade, nos facilitará a ver cada paciente como um ser humano único, com necessidades próprias, e que merece ter uma visão individualizada da equipe que o trata. 
O profissional de saúde mental que atua com dependentes químicos deve fugir da visão referencial da doença, do tipo "tomada aérea da cracolândia", quando assistimos na televisão imagens de dependentes químicos feitas de helicopteros, ora distanciadas, ora desfocadas. É preciso profundo mergulho, caso a caso, em cada alma que pretendermos tocar, e ao fazê-lo, é prudente seguir a sábia recomendação de Carl G. Jung:
"Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana."


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